Por do sol em Zanzibar --alegria
Quero comecar esta despedida dizendo que sou grato.
Por mil motivos. Por exemplo, ter tido a oportunidade de poder, mais uma vez, exceder as fronteiras. Esta viagem e fruto de muito suor, o que imagino que ninguem vai negar. Mas tambem contou com todo o tipo de sorte de que nao posso me esquecer na hora de agradecer.
Sou grato tambem pela companhia dos amigos Chico e Onur. Quando nao estavamos discutindo, animados pela cerveja e as vezes insolentes uns com os outros, fomos otimos companheiros para tantas adversidades. Tenho certeza de que, nao fosse por esses dois, boa parte dos empecilhos da viagem teriam se transformado em tortura.
Agradeco os leitores. Quase 2.500 visitas significam muito para mim. Me deixam ate preocupado --talvez eu devesse ter escolhido melhor as palavras, as imagens, talvez devesse ter tido em mente que tudo isso pode um dia depor contra mim. Mas sei que nao vai. E digo obrigado a quem me acompanhou nesta jornada. Que saibam que ler os comentarios aqui, ou recebe-los por e-mail, certamente tornou as coisas mais faceis para mim.
Agora, a Tanzania. O que agradecer? Primeiro as adversidades, pelo que ensinaram. Pela casca que criaram em mim. Onibus lotado, comida intragavel, banheiro sem privada, blecaute diario, albergue sem agua, acidente de transito, barco sem sombra, trem inoperante, populacao indocil. A metafora ideal sao as botas curtas do Bras Cubas --quando eu descalca-las, meus pes vao respirar, aliviados. O que me traz uma gratidao extra: a de ter a imensa sorte de a minha vida ser outra, de ter nascido brasileiro, em classe media, de ter podido estudar. No fim, por mais cruel que seja, a pobreza nos serve de espelho as avessas.
Tudo isso sao amenidades, voces vao me dizer. De fato. Como o Onur bem disse, vamos nos esquecer de todas as coisas ruins que vivemos na Tanzania e nos concentrar nas boas, no futuro.
Se bem que --talvez nem tenhamos de esperar o futuro. Ja me doi bastante pensar em nos tres desembarcando em Zanzibar, perdidos, embaixo de um sol cruel. Em nos tres tentando descobrir de que cerveja tanzaniana gostamos mais. Navegando o Indico, explorando a savana, vendo o pico nevado do Kilimanjaro ao longe. Ruinas islamicas em Kilwa, e risadas abafadas em uma pocilga de Arusha enquanto o Onur faz imitacoes.
Acordar de madrugada para ir ao banheiro e ter medo de sair da barraca --e se la fora eu encontrar um babuino? Quase dormindo, eu fantasiava --e se o macaco sabio vier ate mim com alguma mensagem? E se um chimpanze, no Gombe, olhar no fundo dos meus olhos e eu, de repente, entender tudo?
Tudo o que?
Nao sei. Isso que me faz viajar. Essa felicidade descontrolada, essa ansia. Essa vontade de conhecer mais e mais e mais, de nao parar por aqui.
Mas e claro --nao vou parar por aqui. A viagem pela Africa terminou. Mas tenho certeza: ainda estou no comeco do meu caminho pelo mundo.
Obrigado por tudo, obrigado a todos.
Frango vermelho; nham nham
Dar es Salaam vista da balsa para Zanzibar
Portas de Zanzibar: protegidas contra elefantes imaginarios
Esse azul desconhecido do mar zanzibarenho
Ruinas islamicas vistas de um barco a vela, no Indico
Mesquitas milenares, e eu sorrio
Chico na ilha de Kilwa
Onur fotografa um elefante
Girafa, a queridinha dos comentarios no meu blog
Zebra gravida, no Serengueti
Saudades zero das estradas tanzanianas
Comida local tanzaniana: nota minima
Pouso em pista de terra, em Kigoma
Barco para Gombe; colorido, mas quase afundando
Ferdinand, macho-alfa, nao gostou de mim
Banhistas em Ujiji, cidade de Livingstone
Ruinas do forte alemao em Bagamoyo